This note presents two new records of giant anteaters Myrmecophaga tridactyla in the city of Tibagi, Paraná State, Brazil, where its occurrence was unknown. The records were obtained in March 2011 and February 2013, both in the surroundings of Guartelá's State Park, in the region of Campos Gérais of Paraná.
Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 é um dos mamíferos mais peculiares da América do Sul (Eisenberg & Redford, 2000). Dentre suas características morfológicas, os adultos desta espécie destacam-se pelo seu tamanho corporal médio de 2 m e 33 kg de massa, e por possuírem clavículas rudimentares (Gardner, 2008). A sua pelagem é densa de coloração cinza-escura a preta (Reis et al., 2006), possui crânio alongado, lingua longa e extensível. Não possui dentes. Seus membros anteriores são musculosos e possuem quatro dedos com três garras fortes e grandes, sendo a garra do terceiro a mais longa, utilizadas na abertura de cupinzeiros e formigueiros e, quando necessário, para a defesa (Chiarello et al., 2008). Seus membros posteriores são compostos de cinco dedos com unhas curtas (Silva, 1994). Os membros anteriores apresentam grande parte da pelagem na coloração branca com faixas pretas nos pulsos e acima das garras, e urna banda diagonal preta com bordas brancas que atravessa a parte lateral do seu corpo (Eisenberg & Redford, 2000). A sua cauda não é preênsil, é comprida, quase do tamanho do corpo, e possui pelos longos e grossos, com coloração variando de marrom a preto (Eisenberg & Redford, 2000; Gardner, 2008).
Possui distribuição geográfica originalmente na América Central nos países da Guatemala e Honduras, e na América do Sul na Colômbia, Equador, Venezuela, Guianas, Peru, Bolivia, Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina (Wetzel, 1982; McCain, 2001). No Brasil ocorria em todo o territorio, nos biomas Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa (Paglia et al., 2012). Atualmente, ocorre nos Estados do Pará, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Amapá, Bahia, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Maranhão, Piauí, Acre e São Paulo (Medri & Mourão, 2008). No Estado do Paraná, sua distribuição original não é conhecida, podendo ter habitado os Campos Naturais, Cerrado, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Mista (Margando & Braga, 2004). Atualmente, a espécie distribui-se principalmente nos Campos Naturais e o Cerrado (Braga, 2009), ficando escassos os registros para as formações florestais (Margando & Braga, 2004). Há registros confirmados da espécie para o município da Lapa em 1988,1999 e 2001 (Braga, 2009), no município de Ponta Grossa no Parque Estadual de Vila Velha (Borges, 1989), no Parque Nacional de Ilha Grande (Mussara, 1994), no município de Jaguariaíva (Braga, 2010; Braga et al., 2010), no município de Piraí do Sul em 2001 e 2002 (Braga, 2009), no Parque Nacional do Iguaçu (Cândido-Jr. et al., 2003), no município de Telêmaco Borba na RPPN Fazenda Monte Alegre (Reis et al., 2005), no município de Fênix no Parque Estadual Vila Rica de Espírito Santo (RochaMendes et al., 2005), no município de Lunardelli (Vidolin et al., 2004) e no município de Sengés (Braga, 2007). O objetivo desta nota é documentar a ocorrência da espécie para o município de Tibagi, no entorno do Parque Estadual do Guartelá, sendo muito provável sua ocorrência no interior desta unidade de conservação da natureza.
O primeiro registro foi obtido através de um encontro ocasional de um trabalhador da Fazenda Salto Cotia (24°44′12Prime;S, 50°14prime;13″W), enquanto realizava suas atividades diárias de manutenção da propriedade, com uma fêmea adulta de Myrmecophaga tridactyla carregando seu filhote em ambiente florestal no dia 11 de março de 2011 (Fig. 1). O segundo registro foi obtido na Fazenda Priotto (24°42′18″S, 50°ll′25″W) no dia 2 de fevereiro de 2013, às 02:08 hs, através da captura em armadilha fotográfica (Fig. 2) e compõe um estudo de impacto ambiental de um empreendimento do setor elétrico.
O clima predominante na região, segundo o sistema Köoppen é Cfa (clima mesotérmico, sem estação seca definida, com verões quentes) com influência indireta do clima Cfb (clima mesotérmico, úmido e superúmido, sem estaçõo seca definida com verões frescos) (Maack, 1968; IAPAR, 2000). As propriedades estão inseridas em área onde originalmente predominavam as Estepes (Campos Naturais), no Planalto Meridional, entremeadas com a Floresta Ombrófila Mista e relictos de Cerrado (Roderjan et al., 2002). Atualmente, os ambientes encontram-se descaracterizados se comparados à formação original, restando poucas áreas de campos naturais íntegros, onde predominam áreas com plantações de Pinus sp. e Eucaliptus sp., entremeadas por capões de Floresta Ombrófila Mista e florestas de galerias (Roderjan et al., 2002). As áreas naturais com maiores níveis de conservação na região se encontram inseridas dentro das Unidades de Conservação, sendo que os registros aqui descritos estão inseridos na Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, a aproximadamente 11 km do Parque Estadual do Guartelá, 8 km da RPPN Fazenda Mocambo e 3 km da RPPN São Francisco de Assis (MMA, 2007).
O tamanduá-bandeira está considerado regionalmente extinto no Uruguai (Eisenberg & Redford, 2000; Miranda & Medri, 2010), possivelmente extinto em Belize, Costa Rica e Guatemala (Miranda & Medri, 2010) e na Argentina está enquadrado na categoria vulnerável (Superina et al., 2012). No Brasil, atualmente está extinto nos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo e em declínio populacional nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil (Medri & Mourão, 2008). No Sul do país, no Estado do Rio Grande do Sul está na categoría das espécies mais raras e ameaçadas, criticamente em perigo (Fontana et al, 2003), e em Santa Catarina não é confirmada a sua ocorrência (Cherem et al., 2004; Tortato & Althoff, 2011). No Estado do Paraná a espécie está enquadrada na categoria criticamente em perigo (IAP, 2010), reforçando a importancia da adoção de medidas que visem proteger suas populaçães e seus habitats, garantindo a conservação em longo prazo. Segundo Braga (2009), as principais ameaças para sua preservação e conservação são: destruição de habitats, ataques de cães domésticos, atropelamentos, caça, perseguição, abate e queimadas. Com o presente estudo indicamos a ocorrência de Myrmecophaga tridactyla para mais um município do estado do Paraná (Fig. 3) e destacamos a importância de mais estudos sobre essa rara e ameaçada espécie na região.
Figura1.
Primeiro registro realizado do tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 na Fazenda Salto Cotia em área florestal (24°44′12″S, 50°14′13″W), Tibagi, Paraná, Brasil. Crédito: Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Programa Desmatamento Evitado.

Figura2.
Segundo registro realizado do tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 na Fazenda Priotto (24°42′18″S, 50°11′25″W) em Tibagi, Paraná, Brasil.

Figura3.
Registros de tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 no Estado do Paraná, Brasil: • ocorrência da espécie no Estado (Margando & Braga, 2004); * presente estudo.

Agradecimentos
Agradecemos à Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Programa Desmatamento Evitado, à Taim Cade Brasil Indústria e Comércio de Equipamentos Ltda pela autorização e incentivo à divulgação científica, à Patricia Dammski Borges pelo apoio nas atividades de campo e ao Eveli Tiago Pedroso pelos registros fotográficos realizados na Fazenda Salto Cotia.