The maned sloth Bradypus torquatus is one of the most threatened species in Brazil. It is endemic to the Atlantic Forest and has a restricted distribution with few known occurrence localities. Between November 2009 and January 2010, we observed maned sloths in three new localities in the mountainous area of Rio de Janeiro State: Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu and Teresópolis. These new records confirm the presence of maned sloths in a large Atlantic Forest remnant in Rio de Janeiro State and highlight the lack of data on the exact range of this species. Intensified fieldwork on maned sloths will help increasing our knowledge on their population status and supporting future studies on the management and conservation of this species.
A Floresta Atlântica sofre com a freqüente redução de sua área e fragmentação de hábitats, compondo um mosaico de pastagens e agricultura que dominam a maior parte do norte do estado do Rio de Janeiro, sul do estado do Espírito Santo e quase todo litoral nordeste (Myers et al., 2000).
A preguiça de coleira, Bradypus torquatus Illiger, 1811, é endêmica da Floresta Atlântica e considerada “em vias de extinção” (EN) pela IUCN (Chiarello et al., 2008). É a espécie de preguiça mais ameaçada do continente Sul-Americano, apresentando distribuição restrita a poucos remanescentes de Mata Atlântica (Aguiar e Fonseca, 2008). Alguns estudos produziram dados recentes sobre a ecologia, comportamento e biologia da espécie (ver Chiarello, 2008a), entretanto, a maioria das informações existentes foi coletada principalmente por estudos realizados em reservas no Estado do Espírito Santo (e.g. Chiarello, 1998a, 1998b; Lara-Ruiz e Chiarello, 2005; Lara-Ruiz et al., 2008), e no sul da Bahia (e.g. Cassano, 2006; Barreto, 2007). Dados de preguiças de coleira do Estado do Rio de Janeiro foram coletados em duas Reservas Biológicas: Poço das Antas e União, nos municípios de Silva Jardim e Casimiro de Abreu, respectivamente (Pinder, 1993; Chiarello, 2008b). Recentemente Chagas et al. (2009) registraram a ocorrência da espécie em remanescentes florestais nos municípios do sul de Sergipe. Nós relatamos observações da presença da preguiça de coleira em três localidades em um grande remanescente de Floresta Atlântica do Estado do Rio de Janeiro.
O primeiro registro de B. torquatus foi coletado em 15 de novembro de 2009 no município de Nova Friburgo, em um grande continuum de Mata Atlântica (22°18′20,28″S, 42°37′28,63″W). A preguiça foi vista às 15:30 hs a uma distância de cerca de 1 m do observador. No momento da observação o animal se encontrava parado à beira da estrada (Fig. 1), onde permaneceu por cerca de cinco minutos. Após esse período, moveu-se em direção à mata do local. O segundo registro da espécie foi observado no município de Cachoeiras de Macacu, na região do Parque Estadual dos Três Picos (22°27′S, 42°39′W). O encontro ocorreu ainda no mês de novembro de 2009 às 11:20 hs enquanto o animal se encontrava na copa de uma árvore do gênero Cecropia L. (Família Cecropiaceae) a cerca de oito metros do chão. O terceiro registro foi feito no município de Teresópolis, parte do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (22°27′05,14″S, 42°57′08,31″W), e ocorreu no mês de janeiro de 2010, às 16:30 hs. A preguiça de coleira se deslocava horizontalmente em dossel florestal a uma altura de aproximadamente 12 m. Somando o presente estudo a outros conduzidos no sudeste e nordeste do Brasil, até o momento são conhecidas oito áreas de ocorrência em 16 municípios e quatro estados brasileiros: Sergipe, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro (Fig. 2).
Possivelmente as populações remanescentes e relictuais de preguiça de coleira do estado do Rio de Janeiro estão isoladas genética e geograficamente das populações do Espírito Santo e nordeste brasileiro, sugerindo implicações extremas para ações de manejo e conservação da espécie, como discutidas por Lara-Ruiz e Chiarello (2008). Ainda assim, permanecem inquéritos insuficientes em outros remanescentes de Mata Atlântica no Rio de Janeiro, como a Serra da Estrela (que inclui os remanescentes dos Parques Estaduais dos Três Picos e de Nova Friburgo), Parque Nacional da Serra dos Órgãos e Parque Estadual do Desengano (Chiarello, 2008b). Relatos de ocorrência ao redor do município de Silva Jardim (Araruama, Foz do Rio São João e Búzios) foram confirmados como a distribuição sul do seu limite geográfico, mas não foi confirmada a observação sobre o Parque Estadual do Desengano, como relatado por Modesto et al. (2008) (A. G. Chiarello, com. pess.).
Provavelmente a espécie B. torquatus não havia sido registrada em tais remanescentes florestais devido a dois fatores envolvendo este gênero: (1) a dificuldade em localizar estes animais, ocasionados por seus hábitos comportamentais, e (2) a falta de pesquisas Ainda assim, é possível que com o incremento das atividades de pesquisa no estado do Rio de Janeiro, novas localidades de ocorrência dessa espécie devam ser registradas em outros remanescentes de Floresta Atlântica, principalmente na região Serrana e adjacências.
Figura 1.
Indivíduo da espécie Bradypus torquatus deslocando-se à beira da estrada, na localidade de Nova Friburgo. Foto: Graziela S. Mello

Estes novos registros, localizados mais no centro-sul do estado do Rio de Janeiro não só confirmam a ocorrência da espécie nestas localidades. Também sugerem que pesquisas adicionais devem ser conduzidas para aferir o tamanho e status de conservação destas populações a fim de subsidiar informações básicas para serem usadas como diretrizes de ações de manejo, tais como translocações e re-introduções para a viabilidade populacional de preguiças da referida espécie.
Figura 2.
Distribuição potencial e limites geográficos da preguiça de coleira, Bradypus torquatus (sombreado); fragmentos e remanescentes florestais do bioma Mata Atlântica (preto); distribuição pontual de B. torquatus (quadrados) e novos registros de B. torquatus (círculo). Os números indicam os municípios dos estados brasileiros onde existem registros pontuais da espécie, incluindo os mais recentes em Sergipe e no presente estudo: Bahia (BA)- Una (1); Pratigi (2) e Mata de São João (3); Espírito Santo (ES)- Aracruz (4); Santa Teresa (5), Santa Maria (6) e Itarana (7); e Rio de Janeiro (RJ)- Casimiro de Abreu (8); Silva Jardim (9); Teresópolis (10); Nova Friburgo (11); Cachoeira de Macacu (12); Sergipe (SE)- Arauá (13); Itaporanga d' Ajuda (14); Santa Luzia do Itanhi (15); Indiaroba (16). Adaptado de Fundação SOS Mata Atlântica e Instituto de Pesquisas Espaciais (2002) e modificado de Lara-Ruiz et al. (2008).
